1– PERISPÍRITO
Antes de abordarmos o item “Mecanismo das Comunicações”, é indispensável que o estudioso da mediunidade obtenha alguns esclarecimentos a respeito do perispírito, por ser ele o traço de união entre a vida corpórea e a vida espiritual. É através dele que o Espírito encarnado se acha em relação constante com os desencarnados; “[...] é, em suma, por seu intermédio, que se operam no homem fenômenos especiais, cuja causa fundamental não se encontra na matéria tangível e que, por essa razão, parecem sobrenaturais”.
Ao questionar se o Espírito nenhuma cobertura tem ou se está sempre envolto numa substância qualquer, Allan Kardec obtém a seguinte resposta: “Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se onde queira”
O codificador compara essa substância ao perisperma que envolve o gérmen de um fruto e diz que, do mesmo modo, podemos chamar essa substância de perispírito, pois que serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.
2.1 – Definição
No prefácio do livro Missionários da Luz, Emmanuel diz que “o perispírito não é um corpo de vaga neblina, e sim organização viva a que se amoldam as células materiais”. Sendo ele o corpo espiritual de que se serve o Espírito como veículo de manifestação no Plano Espiritual é também o intermediário entre o corpo e o Espírito para que este atue na matéria. Por ocasião da morte, somente o corpo físico é destruído, conservando, o Espírito, o seu corpo espiritual ou perispírito. É ainda através dele que a alma comprova a sua individualidade após a desencarnação, pois ela “continua a ter um fluido que lhe é próprio, [...] e que guarda a aparência de sua última encarnação”.
Se é o Espírito quem irradia vida, inteligência e sentimento, o perispírito, por sua vez, ao se submeter aos pensamentos e ações do Espírito, funciona como instrumento de manifestação dele. Sobre tal particularidade, vejamos o que diz Kardec: O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes. (...) Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua expansão e sua irradiação, o perispírito com eles se confunde.
Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contacto molecular. (...) Os meios onde superabundam os maus Espíritos são, pois, impregnados de maus fluidos que o encarnado absorve pelos poros perispiríticos, como absorve pelos poros do corpo os miasmas pestilenciais.
2.2 – Aspectos
No livro O Pensamento de Emmanuel, encontramos minucioso detalhamento acerca do perispírito. Nele, vemos o perispírito ser estudado de acordo com sua função, forma, organização, densidade e coloração, além de outras particularidades, tais como sua expansibilidade e penetrabilidade. O perispírito apresenta a aparência do corpo físico e, por ser de extrema plasticidade, “não fica circunscrito pelo corpo, mas irradia ao seu derredor e o envolve como que de uma atmosfera fluídica”. É importante ressaltar que o perispírito, sendo um corpo organizado, possui sete centros de força, dos quais o corpo físico é sua exteriorização.
2.3 – Centros de Força
Por que estudar os centros de força? Qual a relação deles com o perispírito e com o médium ostensivo? Já sabemos que o perispírito é o instrumento através do qual o Espírito atua na matéria. Sendo um corpo sutil organizado, modelador do corpo biológico, ele rege a atividade funcional dos órgãos físicos através dos centros de força, conhecidos por “fulcros energéticos que, sob a direção automática da alma, imprimem às células a especialização extrema”
Eles funcionam como canais receptores e emissores de energias e se localizam no perispírito. Com exceção dos centros de força “frontal” e “coronário” que, no corpo físico, correspondem a estruturas dentro do crânio, todos os outros centros de força têm uma correspondência no corpo humano através dos plexos, que são entrelaçamentos nervosos. De acordo com André Luiz: [...] o nosso corpo de matéria rarefeita está intimamente regido por sete centros de força, que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia uns com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem, para nosso uso, um veículo de células elétricas, que podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado. [...] Atentos a semelhante realidade, é fácil compreender que sublimamos ou desequilibramos o delicado agente de nossas manifestações, conforme o tipo de pensamento que nos flui da vida íntima.
Ao analisar a fisiologia do perispírito, André Luiz classifica os seus centros de força, relacionando-os com as regiões mais importantes do corpo terrestre: - Temos, assim, por expressão máxima do veículo que nos serve presentemente, o «centro coronário» que, na Terra, é considerado pela filosofia hindu como sendo o lótus de mil pétalas, por ser o mais significativo em razão do seu alto potencial de radiações, de vez que nele assenta a ligação com a mente, fulgurante sede da consciência. Esse centro recebe em primeiro lugar os estímulos do espírito, comandando os demais, vibrando, todavia, com eles em justo regime de interdependência. Considerando em nossa exposição os fenômenos do corpo físico, e satisfazendo aos impositivos de simplicidade em nossas definições, devemos dizer que dele emanam as energias de sustentação do sistema nervoso e suas subdivisões, sendo o responsável pela alimentação das células do pensamento e o provedor de todos os recursos eletromagnéticos indispensáveis à estabilidade orgânica. É, por isso, o grande assimilador das energias solares e dos raios da Espiritualidade Superior capazes de favorecer a sublimação da alma. Logo após, anotamos o “centro cerebral”, contíguo ao “centro coronário”, que ordena as percepções de variada espécie, percepções essas que, na vestimenta carnal, constituem a visão, a audição, o tato e a vasta rede de processos da inteligência que dizem respeito à Palavra, à Cultura, à Arte, ao Saber. É no «centro cerebral» que possuímos o comando do núcleo endocrínico, referente aos poderes psíquicos. Em seguida, temos o «centro laríngeo», que preside aos fenômenos vocais, inclusive às atividades do timo, da tireoide e das paratireoides. Logo após, identificamos o «centro cardíaco», que sustenta os serviços da emoção e do equilíbrio geral.
Prosseguindo em nossas observações, assinalamos o «centro esplênico» que, no corpo denso, está sediado no baço, regulando a distribuição e a circulação adequada dos recursos vitais em todos os escaninhos do veículo de que nos servimos. Continuando, identificamos o «centro gástrico», que se responsabiliza pela penetração de alimentos e fluidos em nossa organização e, por fim, temos o «centro genésico», em que se localiza o santuário do sexo, como templo modelador de formas e estímulos. 50 (grifos acrescentados); os sete centros de força, apresentados por André Luiz, são o coronário, o cerebral, o laríngeo, o cardíaco, o esplênico, o gástrico e o genésico. No centro coronário se “assenta a ligação com a mente, fulgurante sede da consciência”
Segundo André Luiz, “dele emanam as energias de sustentação do sistema nervoso e suas subdivisões, sendo o responsável pela alimentação das células do pensamento e provedor de todos os recursos eletromagnéticos indispensáveis à estabilidade orgânica”. Tendo em vista a função do centro coronário, é necessário mencionar o papel da glândula epífise ou pineal. A epífise “é a glândula da vida mental. Ela acorda no organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar, como o mais avançado laboratório de energias psíquicas da criatura terrestre.
” A epífise se localiza no cérebro, tendo atribuição importante no suprimento dessas energias: ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do campo vital, que a ciência comum ainda não pode identificar, comanda as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade. As redes nervosas constituem-lhe os fios telegráficos para ordens imediatas a todos os departamentos celulares, e sob sua direção efetuam-se os suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos. Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Ao observar um médium, em serviço, André Luiz assinala que a glândula pineal se transforma em “núcleo radiante e, em derredor, seus raios formavam “um lótus de pétalas sublimes”: (...) Quanto mais lhe notava as singularidades do cérebro, mais admirava a luz crescente que a epífise deixava perceber. A glândula minúscula transformou se em núcleo radiante e, em derredor, seus raios formavam um lótus de pétalas sublimes.
Examinei atentamente os demais encarnados. Em todos eles, a glândula apresentava notas de luminosidade, mas em nenhum brilhava como no intermediário em serviço. Sobre o núcleo, semelhante agora a flor resplandecente, caíam luzes suaves, de Mais Alto, reconhecendo eu que ali se encontravam em jogo vibrações delicadíssimas, imperceptíveis para mim. (...) ante minha profunda curiosidade científica, o orientador ofereceu-me o auxílio magnético de sua personalidade vigorosa e passei a observar, no corpo do intermediário, grande laboratório de forças vibrantes. (...) Detive-me, porém, na contemplação do cérebro, em particular. Os condutores medulares formavam extenso pavio, sustentando a luz mental, como chama generosa de uma vela de enormes proporções. Os centros metabólicos infundiam-me surpresas. O cérebro mostrava fulgurações nos desenhos caprichosos. Os lobos cerebrais lembravam correntes dinâmicas. As células corticais e as fibras nervosas, com suas tênues ramificações, constituíam elementos delicadíssimos de condução das energias recônditas e imponderáveis. Nesse concerto, sob a luz mental indefinível, a epífise emitia raios azulados e intensos
A comunicação entre o Espírito e o médium se realiza através do perispírito, fazendo a glândula pineal o papel de válvula receptora. Como poderosa usina a gerar energia psíquica, ela desempenha papel de fundamental importância no mecanismo das comunicações mediúnicas. No livro Missionários da luz, André Luiz apresenta um quadro de observações relevantes no que diz respeito ao papel dessa glândula: (...) estamos notando as singularidades do corpo perispiritual. Pode reconhecer, agora, que todo centro glandular é uma potência elétrica. No exercício mediúnico de qualquer modalidade, a epífise desempenha o papel mais importante. Através de suas forças equilibradas, a mente humana intensifica o poder de emissão e recepção de raios peculiares à nossa esfera. (...) Reconheci que, de fato, a glândula pineal do intermediário expedia luminosidade cada vez mais intensa. (...) Nesse instante, vi que o médium parecia quase desencarnado. Suas expressões grosseiras, de carne, haviam desaparecido ao meu olhar, tamanha a intensidade da luz que o cercava, oriunda de seus centros perispirituais.
3 – MECANISMO DAS COMUNICAÇÕES
E havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. A partir de todo o estudo apresentado até aqui, pensamos já ter os elementos necessários para compreendermos o mecanismo das comunicações. Segundo o dicionário, o termo mecanismo significa: “disposição das partes que constituem uma máquina, um aparelho etc. Combinação de órgãos ou partes de órgãos para funcionarem conjuntamente. Teoria científica que explica os fenômenos físicos pelo movimento”. O mecanismo das comunicações mediúnicas é, igualmente, uma teoria científica desenvolvida pela ciência espírita, baseada nos fatos mediúnicos.
Estudadas a partir da observação e da experimentação, tendo por guia infalível a lógica e a razão, as manifestações mediúnicas passaram a integrar o capítulo dos fenômenos naturais, explicados pelo conhecimento das leis da natureza. Ao estudar tais fenômenos naturais, Allan Kardec analisou a existência dos Espíritos, sua preexistência, sua sobrevivência e a conservação da individualidade após a morte. Comprovou, também, que apenas o corpo físico é destruído pela morte e que o Espírito mantém o corpo espiritual ou perispírito, encontrando aí a chave para muitos problemas, até aquele momento, insolúveis. Outros aspectos estudados pelo codificador, como a sintonia, a vibração e os fluidos, formam um conjunto de leis que estão envolvidas no mecanismo das comunicações, tornando-as evidente. É o que veremos a seguir. Como já dissemos, o perispírito, para os Espíritos errantes, é o agente através do qual eles se comunicam com os encarnados, “quer indiretamente, pelo vosso corpo ou pelo vosso perispírito, quer diretamente, pela vossa alma; donde infinitas modalidades de médiuns e de comunicações”
Para melhor compreensão do mecanismo das comunicações, “não podemos esquecer que o pensamento vige na base de todos os fenômenos de sintonia na esfera da alma”
Allan Kardec, assim se expressa sobre esse assunto: No estado de desprendimento em que fica colocado, o Espírito do sonâmbulo entra em comunicação mais fácil com os outros Espíritos encarnados, ou não encarnados, comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico.” Em matéria de mediunidade, é fundamental o aspecto da sintonia, pois, segundo Emmanuel, “se o homem pudesse contemplar com os próprios olhos as correntes de pensamento, reconheceria, de pronto, que todos vivemos em regime de comunhão, segundo os princípios da afinidade”. Depreende-se, assim, que o mecanismo das comunicações obedece às leis dos fluidos e da vibração. Essas comunicações se expressam com as propriedades e qualidades do pensamento emitido, gerando fluidos perniciosos ou saudáveis. Desse modo, “a alma entra em ressonância com as correntes mentais em que respiram as almas que se lhe assemelham. Assimilamos os pensamentos daqueles que pensam como pensamos”. Dessa maneira, a comunicação mediúnica depende de algumas condições a serem alcançadas pelo Espírito comunicante e pelo médium. Essas condições não representam qualquer aparato de ordem exterior, sendo dispensável para o fenômeno mediúnico qualquer preocupação relativa à cor da roupa, ao ambiente, a acessórios para o médium e para a sala de reuniões, à posição corporal e disposição de cadeiras e mesa, ao uso de incensos ou outras condições que podem condicionar o médium e torná-lo dependente disso. O que deve existir entre o Espírito e o médium é um ajuste vibracional, uma afinidade, para que se estabeleça a sintonia, seja para transmitir as mensagens divinas ou para acolher aqueles que sofrem além das fronteiras da morte.
Avaliemos, primeiramente, a comunicação mediúnica dos benfeitores espirituais, desenvolvida em consórcio com os médiuns nas reuniões mediúnicas. Para que um Espírito Superior entre em contato com os Espíritos menos evoluídos, é necessário reduzir o tom vibratório, a fim de se tornar mais denso o seu perispírito. Desse modo, os Espíritos menos evoluídos poderão ver e ouvir os Superiores. Para que o perispírito se torne denso, os Espíritos se impregnam de energias recolhidas no próprio ambiente ou fora dele, empregando muito esforço mental. No livro Sexo e Destino, André Luiz registra essa experiência ao tentar um diálogo com um obsessor. Desejava fazer-se visível à frente de Moreira (Espírito desencarnado) que, sintonizado com Cláudio (Espírito encarnado), habitava o lar da família de Nogueira. Eis o relato: Poderia transfigurar-me, adensando a forma, como alguém que enverga roupa diversa. Recolhi-me em ângulo tranquilo, à frente do mar. Orei, buscando forças. Meditei, fundo, compondo cada particularidade de minha configuração exterior, espessando traços e mudando o tom de minha apresentação habitual.
Quase uma hora de elaboração difícil esgotou-se, até que me percebi em condições de empreender a conversação cobiçada Espírito de ordem elevada, é preciso que haja esforço do médium e da entidade comunicante, já que ambos se encontram em níveis vibracionais e fluídicos diferentes. O Espírito comunicante precisa diminuir a sua vibração, ao passo que o médium deve elevá-la. Por esse motivo, o médium precisa buscar o preparo físico e espiritual, o recolhimento, a concentração mental, o estudo, a oração e a disposição de servir. Além disso, não deve dispensar o estudo e, principalmente, o esforço diário de autoevangelização nas situações cotidianas.
Ao procederem de tal modo, médium e Espírito comunicante atingem um ponto comum, uma proximidade mental e fluídica, de maneira que as diferenças entre eles sejam minimizadas. É assim que o médium assimila, através do perispírito, os fluidos emitidos pelo perispírito da entidade comunicante, fluidos “que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico” Vejamos, a seguir, dois exemplos narrados por André Luiz. Enquanto o primeiro exemplo retrata a assimilação das correntes mentais de maneira mais fácil, o segundo mostra um processo mais difícil, em face das diferenças existentes entre a médium e o Espírito. Poucos minutos antes de iniciar o trabalho mediúnico, entrou no recinto o dirigente espiritual dos trabalhos: o Irmão Clementino. No plano físico, Raul Silva, dirigente encarnado, já se encontrava devidamente preparado para a tarefa. No momento da prece, o irmão Clementino colocou a destra na fronte de Raul Silva, mostrando-se mais humanizado. Áulus explica o quadro: O benfeitor espiritual que ora nos dirige [...] afigurasse-nos mais pesado por quê. amorteceu o elevado tom vibratório em que respira habitualmente, descendo à posição de Raul, tanto quanto lhe é possível, para benefício do trabalho começante. Influencia agora a vida cerebral do condutor da casa, à maneira dum musicista emérito manobrando, respeitoso, um violino de alto valor, do qual conhece a firmeza e a harmonia.
[...] O mentor desencarnado levantou a voz comovente, suplicando a Bênção Divina com expressões que nos eram familiares, expressões essas que Silva transmitiu igualmente em alta voz, imprimindo-lhes diminutas variações. Ao apresentar a comunhão entre Clementino e Silva no momento da prece, Áulus esclarece clara e precisamente o fenômeno ocorrido com base no processo de assimilação de correntes mentais: – Vimos aqui o fenômeno da perfeita assimilação de correntes mentais que preside habitualmente a quase todos os fatos mediúnicos. Para clareza de raciocínio, comparemos a organização de Silva, nosso companheiro encarnado, a um aparelho receptor, quais os que conhecemos na Terra, nos domínios da radiofonia. A emissão mental de clementino, condensando-lhe o pensamento e a vontade, envolve Raul Silva em profusão de raios que lhe alcançam o campo interior, primeiramente pelos poros, que são miríades de antenas sobre as quais essa emissão adquire o aspecto de impressões fracas e indecisas. Essas impressões apoiam-se nos centros do corpo espiritual, que funcionam à guisa de condensadores, atingem, de imediato, os cabos do sistema nervoso, a desempenharem o papel de preciosas bobinas de indução, acumulando-se aí num átimo e reconstituindo-se, automaticamente, no cérebro, onde possuímos centenas de centros motores, semelhante a milagroso teclado de eletroímãs, ligados uns aos outros e em cujos fulcros dinâmicos se processam as ações e as reações mentais, que determinam vibrações criativas, através do pensamento ou da palavra, considerando-se o encéfalo como poderosa estação emissora e receptora e a boca por valioso alto-falante.
Tais estímulos se expressam ainda pelo mecanismo das mãos e dos pés ou pelas impressões dos sentidos e dos órgãos, que trabalham na feição de guindastes e condutores, transformadores e analistas, sob o comando da mente.69 (grifos acrescentados) O segundo caso retrata a dificuldade encontrada pelo Espírito e pela médium no desempenho do trabalho. Tratava-se de um médico desencarnado que deixou a experiência física antes de concretizar alguns projetos de assistência fraternal aos doentes pobres. Ao perceber a possibilidade de algo fazer além-túmulo, obteve permissão para atuar junto a um grupo de médiuns, a fim de efetuar um plano de socorro aos enfermos desamparados. Dos onze componentes do grupo, oito guardavam atitude favorável, entretanto, a médium Eulália era a que se encontrava em estado receptivo mais adiantado e se aproximava mais do tipo necessário. Ainda assim, explica Calderaro que o médico não encontrava, em sua organização psicofísica, elementos afins perfeitos. Vejamos a narrativa:
Nossa colaboradora não se liga a ele através de todos os seus centros perispirituais; não é capaz de elevar-se à mesma frequência de vibração em que se acha o comunicante; não possui suficiente „espaço interior ‟para comungar-lhe as ideias e conhecimentos; não lhe absorve o entusiasmo total pela Ciência, por ainda não trazer de outras existências, nem haver construído, na experiência atual, as necessárias teclas evolucionárias, que só o trabalho sentido e vivido lhe pode conferir. Mas temos igualmente aqueles casos de atendimento espiritual a Espírito sofredores que, em relação aos médiuns devidamente preparados, encontram-se em plano inferior a estes. Nesses casos, o médium está em um nível vibracional diferente da entidade comunicante, o que o coloca em estado superior.
Para que se processe o socorro espiritual, é necessário haver, igualmente, um entendimento, uma sintonia do médium com a entidade comunicante. No entanto, essa sintonia não poderá descer ao nível do descontrole emocional, das reações irrefletidas ou da comunhão com os objetivos inferiores do Espírito, visto que o superior, em regra, coordena e dirige o inferior. Por isso, deve o médium preparar-se convenientemente para o trabalho, por meio de oração, vigilância, concentração e tantos outros fatores que influenciam na harmonização interior e, consequentemente, na irradiação de fluidos saudáveis. A passividade do médium se reflete na assimilação, através do seu perispírito, dos fluidos emitidos pelo perispírito do comunicante. Nesse instante, alguns reflexos de dor, mal-estar, pensamentos e ideias inferiores poderão assaltar o psiquismo e a organização psicossomática do medianeiro, até que o companheiro seja atendido pela palavra fraternal do dialogador ou pelo socorro da prece. Ao final do atendimento, o médium, naturalmente, tornará ao seu estado de equilíbrio e bem-estar, proporcionado pela prece e pelo desejo de servir ao bem.
Em qualquer um dos casos, observamos que o mecanismo das comunicações e realiza pela identificação psíquica e fluídica de duas entidades, encarnadas ou desencarnadas, que, sintonizadas, compartilham pensamentos, emoções e vibrações. Vejamos o que afirma Kardec: O fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito. [...] As relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com certos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias, e outros que não o podem a não ser pela transmissão do pensamento, sem qualquer manifestação exterior.
Por meio da combinação dos fluidos perispiríticos o Espírito, por assim dizer, se identifica com a pessoa que ele deseja influenciar; não só lhe transmite o seu pensamento, como também chega a exercer sobre ela uma influência física, fazê-la agir ou falar à sua vontade, obrigá-la a dizer o que ele queira, servir-se, numa palavra, dos órgãos do médium, como se seus próprios fossem. Pode, enfim, neutralizar a ação do próprio Espírito da pessoa influenciada e paralisar lhe o livre-arbítrio. Os bons Espíritos se servem dessa influência para o bem, e os maus para o mal.
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